Ainda não foi dada a largada oficial da corrida eleitoral de 2018, mas o assunto já ocupa espaço considerável na imprensa, nas redes sociais e nas discussões da esfera pública em geral.
Atento a isso, o Granja News foi conversar com Marco Iten, que é jornalista e consultor de marketing político, mídias sociais e comunicação pública, Marco Iten é diretor da Exterior Editora Consultoria e Marketing Ltda./MarcoIten.Com.
Marco atua há mais de 30 anos nas áreas de Comunicação Pública e planejamento/execução de campanhas eleitorais. Presta consultoria e qualificação profissional nas áreas de Mídias Sociais, Comunicação e Imagem para órgãos públicos, políticos e empresas públicas e privadas. É autor dos livros de Marketing Político ‘Eleição de Deputados – Estratégia Eleitoral’, ‘Eleição Municipal: Vença a Sua!’, ‘Eleição de Deputados – Planejamento’, ‘Internet para Eleições e Mandatos’, ‘Eleição – Vença a Sua!’, ‘Eleições nas Redes Sociais’ e ‘Eleições nas Redes Sociais’ – que será lançado em breve.
Foi gerente de comunicação e marketing do SEBRAE-SP; Assessor de imprensa da Casa Civil do Governo do Estado de São Paulo, durante a gestão Mário Covas; Atuou como assessor parlamentar nas Câmaras Municipais de São Bernardo do Campo e Santo André, na Grande São Paulo; foi fundador e diretor de jornal diário e de agência de propaganda.
Granja News: Com sua vasta experiência na política, como o senhor vê o cenário político em 2018? O que o diferencia do cenário de 2014, quando houve as últimas eleições gerais?
Marco Iten: O primeiro ambiente a ser avaliado é o do “clima” político. Nesses tempos de Lava Jato e da busca pela moralidade na política, todos os partidos políticos, todas as atuais lideranças e todas as propostas e bandeiras políticas estão inundadas pela descrença e pela desconfiança. Nesse clima, deveremos ter uma aceitação mínima pela adesão aos partidos e candidaturas e, até mesmo, uma forte redução de novos nomes que buscarão entrar na política – e isso, infelizmente, favorece muitos atuais detentores de mandatos.
Todos os partidos políticos precisarão apresentar candidatos ao cargo de deputado federal já que a maior aflição das agremiações partidárias é pelo resultado desta disputa específica. Será pelo número de deputados federais que cada sigla conseguir eleger que o Fundo Partidário das próximas duas eleições (2020 e 2022) e o tempo de TVs e Rádios no horário eleitoral serão calculados. Isso gera uma fixação por essa meta de deputados e eu receio que isso venha a fazer com que as agremiações percam o foco no debate presidencial e até mesmo na qualidade dessas candidaturas.
A prisão do Lula (PT) também é um componente de grande diferenciação das eleições gerais anteriores e os partidos denominados de esquerda estão todos perplexos e as razões estão acima: todos precisam lançar candidaturas próprias para gerar bancadas de deputados federais e haverá uma grande fragmentação de votos e busca pelo rescaldo dos votos do PT. Cada realidade estadual gerará resultados eleitorais ainda imprevisíveis, imprevisíveis nas disputas estaduais e também no cômputo geral.
Um outro forte fator de diferenciação eleitoral estará no uso das Redes Sociais para a campanha eleitoral. Ele terá um aproveitamento expressivo para quem souber fazer o bom uso dessa nova Mídia, a despeito de vermos absurdos sendo feitos hoje, com grande comprometimento da Imagem Pública de candidatos e partidos.
De modo geral, teremos um numero maior de campanhas bem planejadas e com boa estrutura de comunicação com o eleitor, maior do que vimos em disputas passadas.
Pelo próprio clima, saturado e de quase conflagração entre grupos antagônicos, creio que veremos uma disputa mais calma, como deseja a grande maioria da população. As provocações e os debates acalorados poderão afugentar os poucos interessados em acompanhar a disputa no seu dia a dia.
GN: Pegando carona na pergunta anterior, existe algum hábito que o candidato em 2018 precisará adotar para ter sucesso nas urnas? Ou algum hábito que era normal até 2014 mas agora não funcionará mais?
MI: O principal diferencial das campanhas vencedoras é a antecipação. Antecipação na Organização e na Execução da campanha. É um assunto que já venho abordando há décadas. É um grande vício da classe política brasileira deixar tudo para a última hora. E, como vício, essa prática é danosa. Então, respondendo essa sua excelente pergunta, posso afirmar que há uma nova geração de políticos que observam como os políticos tradicionais são amadores e desorganizados, desprezam o planejamento, desconhecem os princípios da boa gestão da sua própria campanha.
Observe como, nesses tempos de Meritocracia, de empresas privadas priorizando a boa gestão, o cuidado com a Imagem, com redução de custos, com cálculos sofisticados para a avaliação de métodos de trabalho, com Certificação pelas boas práticas, você comparar uma campanha eleitoral amadora, que suja ruas, que desloca caminhões de som incomodando pelo som alto e pelo congestionamento que gera nas ruas das cidades… é um verdadeiro suicídio político o uso das velhas práticas ainda entendidas como campanha eleitoral…
Costumo dizer que o modelo clássico de campanha de rua, qual seja, o do candidato contratar 8 a 10 jovens, uma Kombi, criar material impresso e fazê-los distribuir santinhos pelos bairros e ruas, uma ação nitidamente caracterizada pela chamada “velha” política, rapidamente será rotulada como atrasada e suspeita pois, quem é que paga essa estrutura toda? Haveremos de ver que esse modelo de campanha gerará mais rejeição do que apoios eleitorais, Brasil afora.
GN: No campo da comunicação social, as notícias falsas (fake news) têm sido extensamente discutidas e há praticamente um consenso de que elas influenciarão significativamente as eleições. O senhor também acredita no poder de influência que elas exercem sobre o eleitorado?
MI: Sim, elas influenciam, mas já há antídotos para essas ações. Estamos intensamente atuando na construção de campanhas eleitorais com forte estrutura nas Mídias Sociais e, para estas, a nossa preocupação com Fake News é extremamente baixa. Mas também sabemos que o desespero das campanhas eleitorais sem planejamento redundará na apelação, na vulgaridade, da calúnia, na tentativa de desconstrução de reputações. Para meus clientes minha preocupação com isso é ZERO, apesar da eterna vigilância.
Por outro lado, campanhas eleitorais como as que realizamos buscam formar uma massa de eleitores conscientes de que essas práticas virão, e seus remetentes e beneficiados serão tratados e reconhecidos como a “velha” política. E, hoje em dia, quem deseja ser comparado ou reconhecido com essa geração, com essas práticas?
O tema da REPUTAÇÃO nas Redes Sociais é coisa para profissionais que fazem do planejamento e da Imagem Pública dos políticos o meio de diferenciação, tanto pessoal como da Marca do candidato. Veja que isso corre ao largo da ideologia, das facções, e é um componente fundamental para a formação da decisão do eleitor sobre em quem votar. Amplia-se fortemente o número de eleitores que vota pela reputação, pela Marca, pela Imagem do candidato, certamente muito mais do que pelo partido, corrente ideológica ou grupamento político.
É fácil medir: apresente uma pessoa estranha a um colega seu, relatando nos primeiros minutos suas qualidades, formação, detalhes familiares e profissionais, etc. e, ao final, inclua em sua apresentação o fato dessa pessoa ser candidata/o. Observe a reação da pessoa… Agora, para outra pessoa amiga, apresente-o, inicialmente, como candidato, antes de relatar o mesmo texto sobre a vida da pessoa… Neste último caso, cuidado para não perder a confiança do amigo…
GN: O impeachment de Dilma Rousseff acirrou a polarização política em praticamente todo o Brasil. Como os candidatos deverão lidar com esse clima tão “8 ou 80” ao longo de suas campanhas?
MI: O Impeachment da Dilma, a prisão do Lula, do deputado Eduardo Cunha, do ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, o indiciamento de vários políticos, essa sucessão de notícias policiais de políticos vão gerando uma visão, para os eleitores comuns, de que há uma faxina na vida política e, exceto os alvos e os apoiadores apaixonados, esse processo de moralização era esperado há décadas ou séculos.
Eu projeto que essa sensação culminará num sentimento de que cada um está ou estará pagando pelos seus próprios pecados e, ao eleitor, caberá uma substituição natural dos protagonistas políticos. Em outras palavras, rei-morto-rei-posto. Isso pode ser péssimo para aqueles que tentam endeusar os já criminalizados, mas é a ordem natural das coisas. Pecou?-Pagou.
Especificamente sobre Lula-PT, julgo que estão, a cada dia, se distanciando da sociedade e pensando em mitificar um cadáver político. A sociedade pensa no dia de hoje, no amanhã, no futuro, e buscam no voto a perspectiva de dias melhores, melhores representantes, novas ideias, uma segurança para cada um e sua família. Como oferecer isso se um partido se fixa, teimosamente, num encarcerado? Numa “impichada”?
Sou também um tanto crítico com esse pensamento de que a sociedade está polarizada. Ora, se estivesse efetivamente conflagrada teríamos dezenas de milhares de pessoas cercando o Sindicato dos Metalúrgicos, quando Lula lá se refugiou. Mas, não. Eram apenas duas ruas, estreitas, com militantes sindicalizados. Nenhuma família. Nenhum cidadão para lá correu. Apenas os paramentados com camisetas e bandeiras. Os demais 210 milhões de brasileiros? Muitos mais do que aqueles presentes foram comprar fogos caramuru… É nítido que aquele espetáculo teve muito mais audiência do que consternação.
E entendo que a campanha eleitoral não será entre esquerda-direita. Prevejo uma campanha de dois ou três candidatos com alguma coisa a dizer e outros 10 ou 15 sem nada a dizer. A disputa será entre os que terão o que dizer e propor. O “circo” eleitoral terá o maior número de candidatos exercendo o direito da vaidade e da exposição pública, ou dos interesses de seus dirigentes partidários, infelizmente. E isso não é característica apenas das eleições no Brasil, vale sempre destacar.
GN: O recente assassinato da vereadora carioca Marielle Franco é motivo de preocupação para futuros candidatos? O senhor acredita que um clima de medo possa se abater sobre candidatos que busquem representar minorias ou confrontar grupos poderosos?
MI: Não me parece uma preocupação, a despeito de verificarmos, em toda eleição, registros de violência, seja em rincões do país como em cidades densamente urbanizados, como na região metropolitana de São Paulo. Em muitos casos fico admirado do clima silencioso, cortês, extremamente calmo que envolve o dia da eleição, propriamente dito. O que está conflagrado, violento, é o Brasil como um todo, com mais de 55 mil homicídios a cada ano, um número verdadeiramente absurdo. As torcidas dos times de futebol chegam a brigar entre elas próprias, facções distintas de torcidas de um mesmo time. A insanidade não é apenas uma característica do meio político.
GN: Será que 2018 finalmente verá as mulheres conquistando o devido espaço no cenário político, ou a tendência é que elas continuem sendo minoria nas assembleias legislativas e no Congresso?
MI: São vários aspectos que analisamos ao longo desses mais de 30 anos atuando na área. As campanhas educacionais, o movimento da opinião pública, as recentes alterações na legislação eleitoral para favorecer a participação feminina, as cotas para candidatas, as inúmeras veiculações no horário eleitoral pela participação feminina não surtiram efeito prática no contingente de interessadas ou mesmo na singela filiação partidária.
Já são muitas as vozes que definem esse “empoderamento” feminino como uma falsa bandeira de campanha eleitoral, ou mesmo uma variável do discurso do gênero que teve um apelo de Mídia maior do que realmente mobilizou as diretamente interessadas.
De fato, temas como os tratados pela Mídia, em muitos casos, ficaram na própria Mídia, ou seja, lá nasceram e lá morreram. Assim, para o Marketing Político, é estratégico entender se temas como este têm, efetivamente, respaldo popular. Não parece haver, a despeito de tanto espaço de Mídia, tantas capas de revistas, tantas reportagens.
Matematicamente verificamos uma desproporção nos contingentes de eleitoras e sua representação eleitoral mas, talvez, esse não seja um grande tema de interesse das mulheres.
Em pesquisas qualitativas esses aspectos ganham relevância. Os chamados grupos de discussão são próprios para revelar o quanto a Mídia aborda e, em muitos casos, insiste em determinadas pautas e debates que, no mundo real, pouco ocupam nas preocupações do cotidiano.
Talvez tenhamos aí um indicador que retrata o quanto os veículos das chamadas Mídias Tradicionais (Jornais, revistas, TVs e Rádios) perdem público, audiência, vendas. Não só os políticos. Muitas instituições perderam credibilidade e respeito nos últimos anos. É a hora de uma forte revisão de valores, o chamado Passar o Brasil a Limpo. São muitos os problemas, assim como são muitos os não-problemas.
GN: Falando especificamente da nossa região (oeste da Grande SP), o senhor enxerga alguma particularidade por aqui no campo político?
MI: O uso e o abuso do tema da Fé, do vínculo entre a política e as diferentes crenças como alavancas, como indutores de candidaturas, é mais marcante em determinadas regiões do Estado, assim como em determinados Estados brasileiros. Talvez tenhamos alguma mudança a ser percebida nas próximas eleições, pois aqui essa característica me parece exageradamente utilizada. Há um ambiente maior, um alerta, um sinal amarelo para identificar esse exagero, essa manipulação, mas essa chamada fotografia está identificada nas pesquisas qualitativas e não pode ser representada por uma tendência, menos ainda como um fato consumado.
Outro aspecto pode ser o da polêmica busca pelo “novo” na política. A cada eleição o próprio mundo político chega à precipitada conclusão de que o eleitor está ávido por uma tal mudança, seja lá o que isso venha a significar. Ocorre que, em muitos casos, essa visão não é correspondida. Depois que vivermos essa saturação de escândalos políticos, Mensalão, Lava Jato, prisões, denúncias, talvez tenhamos um movimento inconsciente pelo “novo”. Mas também poderemos ver a busca por referendar políticos tradicionais, os chamados sobreviventes da velha política, mas ansiosos em não apostar em nenhuma aventura, na busca pelo “experiente”, talvez.
O que vai desencadear uma, outra, ou nenhuma das alternativas anteriores é um conjunto incontável de pressões, discursos, sentimentos, influências, perspectivas e movimentos não organizados da sociedade. Digo movimentos não organizados porque o brasileiro médio já sabe identificar os movimentos organizados, de interesses, as ações com interesses escusos.
Falo isso porque a compreensão do brasileiro médio é fabulosa. Enquanto a Mídia chama grupos uniformizados de “movimentos sociais” o brasileiro já sabe que se tratam de pessoas remuneradas. Quando algum candidato ao cargo de “celebridade” faz algum pronunciamento pelas Redes Sociais os comentários, abaixo, gravam: “Esse ai NÃO me representa”….!!! e, por aí, vai. Em resumo, estamos vivendo um momento rico para o Brasil onde a população está, diria, vacinada contra a manipulação. O que não vemos é uma evolução dos dirigentes, dos dirigentes partidários, dos dirigentes religiosos, empresariais, além da própria classe política, em geral, assim como da Imprensa.
Então, poderemos ter uma grande surpresa em Outubro deste ano, ou a surpresa ser não termos nenhuma grande surpresa, com um grande e perigoso conformismo com as mazelas que se repetem, sempre vindas dos que se dizem nossos representantes. Estando com a eleição ainda distante, quase seis meses, muitas estratégias são testadas. Estamos no momento das pesquisas aprofundadas.
Veja a entrevista no site do Granja News: www.granjanews.com.br