Especialista fala de candidatos e partidos, da percepções do eleitor e de como tudo isso afetará o resultado eleitoral presidencial neste ano de 2018.
Revista Estratégia – O Marketing Político está sendo criticado nestas eleições. Fala-se muito na manipulação da imagem dos candidatos como algo nocivo.
Marco Iten – O Marketing Político vigoroso e sadio é o que ressalta o Planejamento das campanhas. Neste caso podemos destacar que algumas campanhas presidenciais e algumas estaduais estão se pautando pelo planejamento. Observe como o tema da ideologia perdeu força. Está afinado com o sentimento geral da população de que as escolhas deverão, prioritariamente, afunilar para a capacidade de gestão do candidato, um dos mais expressivos indicativos das pesquisas eleitorais. Quando o tema ideologia sai do foco prioritário você tem um poder de decisão mais racional, mais efetivo, que exige do eleitor uma análise maior de cada candidato, uma comparação. E isso é bom para todos. Há, também, um maior grau de informação sobre os candidatos e partidos e uma taxa de indecisos muito expressiva, o que pressupõe que os eleitores exigem mais e mais informações sobre os candidatos e suas propostas. Não há espaço para a manipulação, para aquelas campanhas vazias altamente influenciadas pelo Marketing Político falso que deu, por exemplo, uma falsa imagem da Dilma gestora, do Lula honesto, do Maluf empreendedor, que enganou milhões.
Revista Estratégia – O eleitor está mais consciente?
Marco Iten – Penso que o eleitor está muito mais informado. As Redes Sociais podem levar esse crédito, sem nenhuma dúvida. Mas o fato de estar mais informado não significa estar mais consciente ou ter uma decisão do voto mais afinada. E, afinal, o que é ser um eleitor consciente? Seria votar no mesmo candidato que eu ou você desejamos? Claro que não, apesar de esse ser o desejo de todo candidato… As Redes Sociais estão dando acesso mais rápido, mais profundo, e num grande volume, para que o eleitor tenha muitas fontes, diferentes fontes para avaliar e julgar. Essa transformação do uso prioritário dos celulares, dos smartphones, está mudando o viés da comunicação. Um dado que publicamos recentemente indica que o brasileiro, em média, visualiza seu celular mais de 180 vezes ao dia, prioritariamente para a busca de informação ou de mensagens recebidas. Então, podemos afirmar que jornais, revistas, TVs e rádios perderam o protagonismo da informação e milhares de pessoas que geram conteúdos nas Redes Sociais são, hoje, muito mais vistas, lidas, avaliadas e influentes. Com isso o eleitor tem acesso, motivação e até cumplicidade com nomes, partidos, preferências, tendências.
Revista Estratégia – As campanhas eleitorais estão mais baratas?
Marco Iten – Nunca se viu uma campanha presidencial com candidatos usando aviões comercial, como vemos com Alckmin, Álvaro Dias, Bolsonaro, por exemplo, e com um comportamento bastante civilizado dos demais passageiros. Isso é salutar, é educativo. Além disso, nenhuma ostentação nesse processo eleitoral será bem recebida pelos eleitores, a maioria desinteressada, indecisa, mas com alto grau de rejeição ao processo todo. Até o momento não vemos campanha ostensiva, e isso nem é possível legalmente, mas o comedimento será fator relevante para se evitar uma resistência ou mesmo uma situação constrangedora, fabricada ou não. O que existe muito, hoje, é o candidato na estrada, visitando, realizando contatos políticos, reaquecendo relacionamentos, buscando apoios. E as campanhas, muito mais curtas do que as até agora vividas, levarão a uma explosão da propaganda, das inserções, do assédio eleitoral nos últimos 20 dias, ou seja, após 15 de Setembro, eu estimo. O tempo curto e a nítida resistência ao assédio eleitoral também deslocam as campanhas para as Redes Sociais, e elas serão importantes para os candidatos ao legislativo: senadores e deputados. Apenas com o caminhar da campanha, ao final do mês de Agosto, teremos uma visão de como o ambiente eleitoral demandará recursos, a partir da recepção inicial pelo eleitor. O interesse pelo processo, até o momento, é mínimo e está exigindo alternativas bastante criativas de nossa parte, para incrementar a participação nas campanhas de deputados, em todo o Brasil. Há um menor fluxo de dinheiro em todas as campanhas, até o momento, e considero isso altamente favorável para as novas candidaturas, desde que essas campanhas sejam bem organizadas.
Revista Estratégia – Os limites previstos de gastos, impostos pela atual legislação, são realistas? Ou são uma ficção?
Marco Iten – Os principais players presidenciais exigirão recursos acima dos R$ 70 milhões previstos como teto. Pense nos custos da produção de TV, dos impressos, na logística dessa distribuição, em viagens a cerca de 200 cidades principais do país, no staff dessas campanhas, custo dos eventos, segurança privada, assessoramento contábil e jurídico… Essa matemática de quem gerou a pífia reforma eleitoral 2018 não bate. Ficção pura. Da mesma forma, campanhas de deputados limitadas aos tetos lá estabelecidos são bastante irreais, a despeito dessa falta generalizada de recursos.
Revista Estratégia – Temos partidos ideológicos no Brasil?
Marco Iten – Temos irmãos controlando partidos, pai e filho, pai e filha, corporações, interesses, interesses e interesses. Partidos são pessoas jurídicas criadas para beliscar um naco do sistema, usufruir grandes porções da riqueza do país e representar aqueles, apenas. Já ouvi que o poder é o sexo dos velhos… E o velho, hoje, na política, é essa falsa representação política ditada e simbolizada pelos partidos políticos. É um Zero de credibilidade, mas ainda é a via para a participação política e eleitoral. O recurso da candidatura avulsa, sem a necessidade da filiação partidária, seria a pá de cal nesse sistema viciado, mas essa possibilidade de o cidadão candidatar-se sem a exigência de filiação às agremiações que aí estão é proibida pelos próprios senadores e deputados que controlam os partidos, é claro…
Revista Estratégia – Bolsonaro, hoje, lidera as pesquisas. Essa realidade permanecerá assim, visto que as campanhas serão curtas? Ele está consolidado?
Marco Iten – Bolsonaro fez o discurso que parte da população tem alto grau de sensibilidade. Em tese, esse público é aquele que senta no sofá e espera alguém se pronunciar num discurso de quem “vai fazer”, “vai prender e arrebentar”, vai “caçar os marajás” etc. e tal… São as madames de Ipanema, dos Jardins, das zonas Sul, que esperam que alguém faça por elas… É uma classe média alta que já acreditou no Collor, por exemplo, e hoje acha que o intervencionismo militar é a solução. São as pessoas que já foram assaltadas e acham que um coronel na presidência vai bater, prender e arrebentar. São os sem escolaridade e sem civilidade. Simbolizo como aqueles que colaboram com um linchamento. É uma parte expressiva do eleitorado que não participa e acha mais confortável terceirizar uma tal de “limpeza” política que, convenhamos, não virá. Então, Bolsonaro falou para essas pessoas, predominantemente via Redes Sociais, gerando uma comoção e uma adesão natural às causas e bandeiras comuns. Mas a eleição de um presidente não é só isso. A questão da governabilidade não foi colocada e nem é do interesse do Bolsonaro suscitar esse tema, pois essa é uma das muitas fragilidades dele. Além do fato de ser despreparado para o jogo político, para ouvir, falar e ponderar, para equilibrar, para exercer pressão, mas também para ser pressionado – a essência da vida política – , ele vive seu ápice, e sabe disso. A única variação plausível para Bolsonaro é a queda, a partir de agora. As pesquisas o citam com essa margem, de 16% a 24%, mas num universo de mais de 67% que ainda não se deram conta das eleições, não se manifestaram nem optaram por alguém. Esse índice dele é expressivo, mas sofrerá brutal redução quando importantes massas de eleitores passarem a fazer sua opção.
Revista Estratégia – Temos muitos candidatos a presidente, mais do que seria razoável?
Marco Iten – São fatores distintos que explicam essa realidade, nesta fase. A mais importante é que os partidos necessitam se fazer presentes, vivos, e uma candidatura presidencial dá mais seriedade às agremiações. Para o público externo e para os eventuais simpatizantes de uma determinada agremiação, uma candidatura presidencial dá corpo, dá legitimidade à sigla. Um outro fator é que os partidos necessitam passar pela chamada cláusula de barreira, que é uma cota mínima de 1,5% dos votos válidos para o cargo de deputado federal, em um mínimo de 9 estados, para que possam pleitear nas próximas eleições seus correspondentes tempos de TV e cotas do Fundo Partidário. Há ainda outro fator que determina uma exposição pública mais frequente no horário eleitoral para benefício, quase sempre, de seus dirigentes e seus escolhidos, em muitos casos seus parentes, filhos ou cônjuges desses donos de partidos. Essa perpetuação no domínio da máquina partidária exige poder político e isso, em muitos casos, só se dá com os votos advindos da exposição pública. Mas, é certo que veremos, nas próximas semanas, algumas desistências de candidaturas insustentáveis, quer pela inviabilidade financeira das campanhas, quer porque essas apenas se colocaram para uma negociação de apoios ou pelo velho fisiologismo. Alguns já desistiram, como Luciano Huck, Rodrigo Maia, Aldo Rebelo, Guilherme Afif, Joaquim Barbosa, e Flavio Rocha. Novas desistências devem surgir, mas o importante de sua pergunta é a falta de representatividade de muitas delas, apenas projetos pessoais, sem respaldo da sociedade.
Revista Estratégia – É possível que o presidente eleito tenha força para enfrentar o Congresso Nacional e seus interesses corporativos, cada vez mais voltado para o fortalecimento político e de poder de seus próprios integrantes, de seus principais articuladores?
Marco Iten – O Congresso passou a exercer um poder mais intenso na medida em que viu o Executivo nas mãos de presidentes fracos, como Dilma e Temer. O mesmo ocorreu com o Judiciário, ocupando espaços, quase legislando, dado ao improviso e a falta de um Executivo atuante e com personalidade. Enfim, estamos pessimamente representados nos Três Poderes. E as vaidades se destacaram como a maior característica de seus protagonistas.
Revista Estratégia – Na sua opinião haverá grande renovação no Congresso a partir das eleições 2018?
Marco Iten – Infelizmente, não. A legislação eleitoral, votada por eles, os beneficiará. O Fundo Partidário e o Fundão, verbas bilionárias, estão nas mãos nos mesmos. O controle do tempo de uso das TVs pelos partidos continua nas mãos dos detentores do poder nas agremiações e, pior, as promessas de renovação são frustrantes.
Revista Estratégia – Frustrantes? Você fala dos movimentos da sociedade civil?
Marco Iten – Sim. Infelizmente, em muitos casos, movimentos de renovação, de qualificação de novos protagonistas políticos revelaram-se uma piada ou mesmo uma manipulação de iludidos a serviço de interesses pessoais, de vaidade de celebridades, sem realmente qualificar e potencializar novas lideranças. O resultado verificaremos na apuração eleitoral.
Revista Estratégia – Quais os 5 principais fatores para a eleição do futuro presidente nesta eleição?
Marco Iten – Certamente teremos temas essenciais para favorecer a decisão do eleitor. Talvez, numa ordem decrescente, teremos: 1) Capacidade de transmitir segurança, conhecimento, experiência e poder de negociação para presidir um país tenso; 2) tempo de TV para se expor, estar presente, debater e apresentar propostas concretas; 3) estrutura em cada estado e em cada município para alavancar campanha eleitoral, num país continental como o nosso, com 26 Estados, Brasília e 5.570 municípios – é fundamental a geração de votos em cada Nicho Eleitoral, cada município, em todos os ambientes; 4) Redes Sociais ativas, intensas, bem construídas; 5) Uma legião de candidatos a deputado, senador e governador que impulsione o nome presidencial, visto que a presença física do candidato será limitada pelo tempo, pelas distâncias, pela agenda. Em outras palavras, apenas candidatos com uma estrutura bem montada terão êxito de passar para o segundo turno.
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