Por Professor Gilson Alberto Novaes
Fiz campanhas eleitorais nas décadas de setenta e oitenta, quando os comícios eram os grandes mobilizadores da opinião pública. Comício com bastante gente era sinal de prestígio do candidato. Naquela época, os candidatos menos abastados, como eu, transformavam uma traseira de caminhão em palanque. Puxava-se um bico de luz sobre ele e pronto, estava armado o palanque. Era só esperar pelos ouvintes. Às vezes vinham, outras não. Fiz comício com mais gente em cima do caminhão-palanque do que em baixo, assistindo.
Naquela época, as notícias falsas já existiam, mas tinham outro nome: calúnia, maldade, mentira e outros adjetivos. Os candidatos falavam mal uns dos outros em cima do palanque mesmo. Os tempos mudaram.
Hoje, são fake news, informações falsas, distorcidas, maldosas, espalhadas pelas redes sociais. Ultimamente transformaram-se numa guerra de informações, usadas com fins políticos, no mundo inteiro. Ganharam visibilidade na campanha presidencial dos Estados Unidos, na eleição de Donald Tramp em 2016, quando pesquisas apontaram que houve forte influência das fake news nas eleições. Sem nenhuma dúvida, as redes sociais têm sido grandemente usadas para difundir notícias falsas, de consequências desastrosas para o mundo político, social e econômico.
Ultimamente as fake news se transformaram numa atividade altamente rentável, que movimenta bilhões de dólares por ano. Essa indústria do entretenimento remunera os criadores das fakes news pelo número de seguidores que cada um alcança com as notícias falsas que publicam. O anonimato é a trincheira desses artistas!
Agora, em 2018, o Brasil vai experimentá-las com maior intensidade! Quem viver, verá! Elas já contaminam o debate político por aqui há algum tempo. O cenário está armado! Tivemos a Copa do Mundo, com atenção do povo desviada para o futebol, e, agora, uma eleição curtíssima, de quarenta e cinco dias, forte polarização ideológica, enfim uma eleição muito acirrada, com previsão clara de um desvirtuamento do debate público.
As fake news têm trazido preocupação para o Tribunal Superior Eleitoral, que se mobiliza para combate-las e inibi-las, sem contar os diversos projetos de lei apresentados por deputados e senadores nessa direção.
O que tem preocupado as pessoas de bom senso é que essas notícias falsas se valem do compartilhamento descuidado e até irresponsável dos internautas que disseminam notícias falsas, inverídicas, caluniosas.
Sem dúvida as eleições que nos mostrarão mais ainda a importância das redes sociais e os estragos que as fake news podem fazer se não forem combatidas com rigor. Tarefa nada fácil, convenhamos!
Noticiou-se recentemente que as megacorporações, tais como o Facebook, Google e Twitter, não têm obtido pleno êxito no combate às fake news publicadas em suas plataformas, o que tem levado algumas empresas a deixarem de investir milhões em anúncios digitais.
O combate às fake news deve ser uma tarefa de todos, desde as empresas de tecnologia, passando pelos órgãos públicos, chegando a nós, usuários das redes sociais, que temos acesso fácil a elas. Nosso papel social e nossa responsabilidade com nossa Pátria, num momento tão difícil por que passamos, deve levar-nos à prudência antes de qualquer compartilhamento ou publicação.
Vários meios de comunicação hoje em dia já contam com os “checadores” de informações, havendo ainda aqueles que fazem parcerias com empresas especializadas nessa checagem de notícias, outro negócio que surge atualmente.
Precisamos ficar atentos. Interessados em disseminar notícias falsas, certamente não faltarão!
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Gilson Alberto Novaes é professor de Direito Eleitoral na Universidade Presbiteriana Mackenzie-Campinas, onde é diretor do Centro de Ciências e Tecnologia. Formado em Pedagogia na Faculdade de Educação Piracicabana (1972), Licenciatura Plena em Educação Artística pela PUC de Campinas (1974), Bacharel em Direito pela Universidade Metodista de Piracicaba (1989) e Mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (2002). Foi Vereador da Câmara Municipal da cidade de Santa Bárbara d’Oeste.
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