Em 2019, quando o mundo sequer sonhava que um vírus nos obrigaria a manter a distância uns dos outros, percorremos o Estado de São Paulo com o Seminário Eleição 2020. Falamos para pré-candidatos aos cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador, bem como para suas equipes – de Comunicação, Marketing, Direito Eleitoral, Contabilidade de Campanha.
Em todas as ocasiões repeti que a presença nas redes sociais requer de tempo. Não basta ter uma conta em cada plataforma social conhecida (ou relevante na localidade). É preciso estratégia para criar, estabelecer, aumentar, consolidar a presença em cada uma das plataformas identificadas na estratégia de comunicação do candidato – seja ao cargo que for. Também é preciso muito trabalho para transformar os “amigos” ou “seguidores” de redes sociais em eleitores da vida real.
Todos ouviam atentamente, mas as conversas durante o cafezinho ou ao final dos eventos eram sempre as mesmas: “não quero gastar com isso agora”. Repeti um sem-número de vezes que começar a trabalhar as redes sociais com antecedência, além de muito mais barato, também aumentava significativamente as chances daqueles candidatos chegarem à etapa “conquista de votos” no período eleitoral. Dois anos não é tempo suficiente sequer para todo o processo de construção, ampliação e consolidação da presença nas principais plataformas sociais. Chegar ao ponto de conquistar votos, portanto, seria menos provável ainda no ano em que se dariam as eleições.
Alertei inúmeras vezes para o fato de que quem deixasse para “investir” em redes sociais no ano eleitoral, esse sim perderia dinheiro.
Mas foi exatamente o que aconteceu nas eleições de 2020. Inúmeros candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador decidiram iniciar suas ações nas redes sociais em março, abril, maio do ano eleitoral. Teve quem preferiu esperar o 2º semestre de 2020… E muitos (mas muitos mesmo) resolveram “investir” nas redes sociais apenas durante o período de campanha.
O resultado… nem preciso dizer, não é?
Os candidatos que defendiam nichos específicos ou já tinham alguma relevância on-line e off-line até que tiveram um desempenho melhor…
…nas redes sociais.
Os resultados positivos, porém, em muitos casos, não se repetiram nas urnas.
Já os que chegaram por último nas plataformas sociais, em sua maioria, saíram frustrados. Eles sentiram na pele tudo aquilo que já havia sido alertado. O eleitor não é bobo. As pessoas já conhecem bem a classe política. Basta virar o calendário para ANO PAR e centenas de usuários de redes sociais que até então tinham pouca ou nenhuma atividade nas plataformas surgem com denúncias e críticas aos que estão no poder, sugestões de como melhorar isso ou aquilo, além, é claro, dos infindáveis posts de congratulações às centenas de categorias profissionais que aparecem em calendários comemorativos. Em ano par vemos tanta gente parabenizando do coletor ao doutor que até mesmo o mais desatento usuário das plataformas sociais desconfia das reais intenções dos que publicam esse tipo de conteúdo.
E para cada post de candidato em ano par há pelo menos dois ou três eleitores para comentar: “só porque é ano de eleição”.
O pior de tudo é que os eleitores estão cobertos de razão. A maioria dos candidatos se comporta como fruta de estação: aparece entre os meses de março e novembro dos anos pares e, tão logo as urnas são abertas, somem sem deixar vestígios.
Os eleitores, calejados, fazem o movimento inverso. Eles permanecem nas redes sociais até o início da campanha e fazem quase um “voto de silêncio” durante o período eleitoral.
Em 2020, o movimento nas redes sociais no dia 27 de setembro foi marcante. Às 0 hora do 1º dia de propaganda eleitoral permitido pela Legislação, centenas e centenas de candidatos “se apresentaram”. Não queriam perder um só minuto. Imagens de capa e de perfil foram trocadas, vídeos de apresentação de candidatos foram postados em toda e qualquer plataforma social, santinhos eletrônicos surgiram como erva daninha nas telas… O movimento (quase desesperado) dos candidatos se repetiu em todos os dias seguintes. E não havia quem os convencesse de que aquilo era inútil e desnecessário. Agiam como se o profissional de redes sociais não quisesse trabalhar.
E de nada adiantava apresentar relatórios mostrando que o número de eleitores nas redes no mesmo período despencava. Os que ficaram pareciam mais sensíveis e, na maioria das vezes, preferiam criticar a interagir.
Muitos usuários (eleitores) chegaram a postar perguntas irônicas do tipo: “Sobrou alguém que não é candidato por aqui?”
Mas os candidatos ignoraram completamente a falta de paciência dos eleitores e insistiram, insistiram, insistiram…
Os eleitores voltaram às redes sociais na medida em que as eleições se aproximavam. As interações, porém, continuavam abaixo das expectativas.
Na véspera do pleito, eleitores dos quatro cantos declaravam votos nas páginas, perfis e contas de candidatos – embora muitos tenham reclamado que o número de votos declarados nas redes não se concretizou nas urnas…
Abertas as urnas, os eleitores retornaram em massa para as redes sociais, interagindo como nunca (ou melhor, como sempre). Já os políticos…
…Sumiram.
Mas não se preocupe. Em 2022 muitos deles estarão de volta.
Cíntia Cury
Social Media da MarcoIten Marketing Político – Eleitoral – Digital