O brasileiro pediu e o eleitor vai atender?
Ou foi o Congresso Nacional e essa nossa “classe” política que tanto fizeram que, ao fecharem as urnas das Eleições 2018, veremos a maior renovação de políticos da história recente do país?
Esse é o grande pânico dos atuais membros do Congresso Nacional e razão para as pueris alterações da legislação eleitoral para a próxima disputa.
Se, nas últimas três décadas, verificamos que a cada eleição para o Congresso Nacional e Assembleias Legislativas estaduais a renovação de nomes, em média, supera a marca de 40%, é certo que deveremos verificar, em outubro próximo, índices bastante superiores, o que virá para atestar a sangria de credibilidade, de esperança e de falsas expectativas com os atuais representantes legislativos.
A atual classe política está acuada – e fez e faz muito por merecer tal descrédito.
A atual classe política brasileira é muito malvista pela maioria da população e as últimas artimanhas travestidas de reforma política pouco farão para atenuar essa rejeição, pelo que se observa nas Redes Sociais e nas pesquisas qualitativas já realizadas.
Nas chamadas “bases eleitorais” de muitos parlamentares o grau de descontentamento á bastante expressivo, principalmente quando falamos dos parlamentares mais voltados às causas sociais ou vinculados a entidades de cunho social e que sustentaram candidaturas visando a liberação de emendas parlamentares para essas instituições, como Rotary, Maçonaria, Santas Casas e demais entidades sociais e assistenciais – e a razão maior desse descontentamento é o reduzido fluxo de recursos gerados pela crise fiscal que se abateu sobre os orçamentos federal e estaduais.
Nichos Eleitorais ideológicos também encontraram um alto grau de descontentamento quanto ao posicionamento de seus ditos representantes nesse mar de escândalos que impregnou a classe política de muitos partidos.
A desilusão quanto a determinadas legendas já foi vista nas eleições municipais de 2016 e deve voltar a refletir a desilusão nessa representação política que muito pouco fez, tanto no Congresso Nacional quanto nas Assembleias Legislativas estaduais e do Distrito Federal.
Sim, a desilusão, mas não apenas isso.
Se debruçarmos sobre os números dos resultados da Eleição 2014 poderemos prever grandes alterações para 2018.
É possível prever o PT paulista repetindo o resultado de 2014, quando elegeu 10 deputados federais? Cabe lembrar que naquela eleição a maior parte dos federais que lograram êxito não teriam obtido sucesso não fosse o fenômeno Tiririca, com eles coligado. Além desse fato, imprescindível, muitos desses que se elegeram tinham bases eleitorais sustentadas em prefeituras petistas, hoje nas mãos de adversários, como Vicentinho (PT-SP), cuja base eleitoral era a cidade de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, então sob administração do PT e, hoje, do PSDB. Vários deputados tiveram estruturas eleitorais baseadas na então prefeitura petista em São Paulo, hoje nas mãos da gestão tucana de João Dória. Além disso, a saída de diversos parlamentares para outros partidos é um movimento que parece ainda não ter se encerrado, o que reduziria ainda mais a força eleitoral do PT e de outras siglas que vinham verificando crescente índices de simpatia e respaldo popular.
Mas o pânico da classe política gera movimentos de toda ordem.
Deputados, senadores e dirigentes partidários são sábios observadores da “maré” política, das tendências do voto, da percepção – nem sempre técnica e pesquisada – de qual a “onda” a ser surfada.
E a pergunta, hoje, no Congresso Nacional, é: Qual é a BOA, para 2018?
Pelo quadro abaixo já se pode concluir quais não são as Boas
Alternativas para a busca de bons resultados eleitorais. PT, PSD e PMDB estão sofrendo expressiva perda de deputados federais e as razões são absolutamente evidentes:
1) O PT amarga a justificada associação de sua imagem com uma quadrilha, seja essa imagem generalizada justa ou injustamente lançada contra todos e a cada um de seus integrantes. O espírito de corpo de todos os petistas impediu que se buscasse uma distinção entre os muitos que cometeram graves deslizes e, eventualmente, alguns que de nada se beneficiaram. Isso gerou a percepção de que, lá, todos se locupletaram com a roubalheira desenfreada. As urnas, em 2016, foram um claro aviso dessa decepção e 2018 promete repetir a dose!
2) O PSD (leia-se Gilberto Kassab) prometeu aos seus usufruir das benesses do poder e ser um partido aliado ao poder, qualquer poder, com qualquer partido que lá chegasse, doesse a quem doesse. É uma lógica tipicamente brasiliense, mas choca os observadores e eleitores com escrúpulos, na medida em que padrões éticos, morais e minimamente coerentes do ponto de vista ideológicos são o que se espera de uma agremiação partidária.
3) O PMDB é o que se sabe: é o PMDB. Aliou-se a Lula e Dilma, e a despeito da “caneta” federal, das verbas, das emendas, do exercício do poder na concepção menos republicana que se tenha notícia, sua impopularidade ganhou rosto (e, assim fazem parecer seus principais dirigentes, não os incomoda essa alta taxa de rejeição pelo forte descaso que cultivam pela opinião pública).
As três agremiações sofrem com a falta de candidatos definidos ao cargo de presidente da República e nomes competitivos para os principais colégios eleitorais do país.
O PT sabe que Lula está inviabilizado para 2018 e para as eleições futuras, mas ainda vive sabendo que se Lula não criar e mantiver alguma expectativa de viabilidade legal dessa candidatura a debandada será ainda maior nos próximos meses. Os deputados sabem disso, assim como aqueles que pensam em concorrer aos demais cargos eletivos mas reconhecem o custo e o peso da imagem negativa da legenda e da opinião pública numa campanha – principalmente para os petistas que não são amparados e protegidos por equipes da PF e seguranças privados, como é o caso de Lula. O clima não está nada favorável para eles, hoje; pense, então, quando os ânimos estiverem exacerbados ao longo do ano…
No outro extremo do espectro ideológico está a candidatura de Jair Bolsonaro, os militares, os intervencionistas e uma oportunidade que parte dessa classe política busca se associar, na ânsia por uma selfie com o candidato “do momento”, surfar na “onda” da popularidade dos que pontuam nas pesquisas, quanto mais quando lideram. É certo que haverá um movimento forte de deputados e potenciais candidatos em seguir Bolsonaro quando este, definitivamente, definir seu partido “de momento”, sim, pois Bolsonaro é também conhecido pela inconstância de sua fidelidade partidária.
Outro fator a determinar uma expressiva renovação das bancadas atuais está na matemática eleitoral, mais especificamente no quociente eleitoral estimado para a próxima disputa.
No quadro abaixo retratamos o quociente eleitoral exigido, para cada estado, para os cargos de deputado federal e estadual, na disputa de 2014. Os números sempre assustam pois é baixíssimo o número de candidatos que atingem essa exigência – quase sempre são apenas os fenômenos eleitorais. A imensa maioria dos candidatos eleitos fica bem abaixo desses índices, mas, para 2018, com a forte rejeição ao tema e a grande dificuldade de se obter recursos financeiros para o custeio das aventuras eleitorais é de se prever uma quantidade expressivamente menor de candidatos e, portanto, da somatória total por legenda.
É de se destacar que em vários estados o quociente para deputado estadual é de 1/3 dos votos necessários para federal. Será, pois, uma Arte o trabalho de convencimento que dirigentes partidários deverão empreender para que potenciais e bons nomes venham a candidatar-se ao cargo de deputado federal. Além dessa exigência matemática, há ainda a forte rejeição da imagem dos representantes no Congresso Nacional, sempre superior ao que se verifica com os legislativos estaduais.
Um candidato a prefeito, em 2010, sairia candidato a federal no próximo ano se seu objetivo fosse apenas o de “esquentar” seu nome para a disputa municipal? Sua possibilidade de êxito, de fortalecimento de seu nome e, numa eventual vitória, sua proximidade com o eleitor faz da eleição estadual um atrativo extremamente mais interessante.
Estes e outros fatores parecem levar antecipadamente o resultado das eleições ao Congresso Nacional para fatores, razões e índices de maior desestabilização do que os verificados e consolidados em disputas anteriores.
Outra questão – talvez mais de ordem moral do que partidária ou matemática – está na dúvida que persistirá até que possamos observar a conduta dos novos congressistas eleitos: Novos deputados e senadores significarão renovação das práticas da média dos atuais congressistas?
Marco Iten é especialista em comunicação pública e Mídias Sociais, planeja e coordena campanhas eleitorais em todo o país.
É autor de 5 livros sobre Marketing Político.
Ministra cursos e consultoria para candidatos, partidos políticos, detentores de mandatos e prepara equipes para o bom uso das Mídias Sociais na comunicação. fale@marcoiten.com.br – facebook: /marcoiten.estrategia
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